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quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

the gates to heaven MUST be open!

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Conversa vinha e conversa ia com o Alvaro, o meu colega de 'posts' desse blog, nos perguntávamos o que ELE iria tocar, tentávamos antecipar suas escolhas e, com isso, aumentávamos nossas expectativas. Eu apertava a minha mão contra o meu joelho, respirava e dizia: será perfeito se ele tocar 'done got old', mais nada, essa é uma música que eu tenho que ouvir da boca dele. O Alvaro concordava, balançava a cabeça e, então, discutíamos mais músicas.


Pegamos o meu carro e saímos um pouco antes da hora marcada para o show, pois não queríamos esperar muito. Chegamos bem a tempo, ocupamos nossos lugares nas fileiras da frente, graças a meses de economia, uns quinze minutos antes de começar o show.

Nós ouvimos falar que em alguns shows ele andava entre a platéia e fazia isso e aquilo. Eu não esperava muito, tentava não deixar a minha expectativa muito alta. O show começou, tudo rolou muito bem, exceto por um "fã" infeliz, daqueles que gosta de mostrar para TODOS que ele é um fã DE VERDADE, sentados na frente dele ouvíamos ele gritando as letras junto com Buddy e não contente apenas com isso, antecipando as partes cantadas e gritando a letra antes do próprio Buddy.


Para o meu espanto, no meio do show ELE desceu do palco para andar entre a sua platéia, passando a um metro de mim, que assistia a tudo isso de boca aberta e uma expressão de espanto somente comparável, provavelmente, a quando os pescadores assistiam, em tempos bíblicos, o Messias andar sobre as águas.

Performances maravilhosas de Hendrix, Cream e, superando qualquer previsão ou expectativa minha, trazendo lágrimas para os meus olhos, 'Boom Boom' do John Lee Hooker; Foi assim que, sem perceber, em alguma parte do show, essa deliciosa mistura entre céu e inferno, causada pelo artista e seu fã infernal, eu me encontrei extasiado e com uma estranha certeza de que agora eu fazia parte da história da música.



O show terminou e, como todo bom show, eu não achava que tinham se passado muito mais do que quinze minutos. Ele se inclinou no palco, sobre a platéia, para jogar palhetas e a multidão se agregou formando uma parede instransponível de fãs do blues. Não consegui chegar a tempo de pegar uma palheta para mim, Deus deve estar de brincadeira, eu pensei. Mas enquanto eu comentava com o meu amigo que o Buddy não havia tocado 'done got old' e que, o show foi tão foda que nem sentimos o tempo passar, o guitarrista da banda dele volta e eu encontro a minha segunda chance, poxa, talvez o Buddy mande os outros jogarem suas palhetas ao público, pois ele prefere não perder tempo com isso, pensei. Doce ilusão, me acotovelando e espremendo, consigo com muito esforço, pegar um cartão de divulgação pessoal do Rick Hall, guitarrista da banda, ao som de gargalhadas e piadas no fundo, "taí o meu cartão, pra aniversários, colação de grau, bar mitzvah, festa de debutante..."



Mas, com tudo que aconteceu, valeu a pena de longe. E Não tem como eu demonstrar, através de texto algum, o quão absurdo de bom foi o show, só quem foi mesmo.
Abraços.