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quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

In the mood for Mr. Johnson

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And I feel so lonesome, you hear me when I moan
And I feel so lonesome, you hear me when I moan
Who been drivin' my Terraplane, for you since I been gone?


Este post deveria ter sido postado antes do natal, mas por razões de força maior (e por um pequeno problema no momento da postagem, quando eu perdi as configurações das fotos depois de um bom trabalho ajeitando isso), ficou adiado, só podendo ser concluído hoje, após o meu retorno (de viagem, do reveillón). Bom, segue o post, de qualquer maneira, e a sugestão continua, mesmo não sendo mais natal:


Às vezes, a gente escuta algumas coisas, mas não entende de primeira. Em particular, a minha relação com o blues sempre foi constantemente marcada por esses "não entendimentos", seguidos de entendimentos que faziam a coisa toda ganhar sentido. Ainda acontece isso, hoje em dia, e espero que aconteça sempre. Uns diriam que a boa música é aquela que não é absorvida imediatamente, mas que requer algumas audições e um ouvido mais "sofisticado". Eu não diria tanto. Acho que há épocas e humores, com relação a isso. Há músicas para determinadas épocas, determinadas situações, estados de espírito, e outras para os demais (épocas, situações, estados de espírito). E há, também, afinidades pessoais com determinados artistas e estilos, que podem ou não ser construídas com repetidas audições. É evidente que muitas músicas precisam de muitas audições, por serem muito imprevisíveis (parte da "graça" de escutar música reside em você antecipar o "caminho" que ela irá percorrer, e é perfeitamente compreensível que músicas mais "imprevisíveis" ganhem status mais elevado depois de devidamente "entendidas" e "previstas").




No que eu acredito divergir de muitos adoradores de "músicas difíceis" é que, pra mim, mesmo algumas músicas simples precisam de muitas audições (às vezes, mais que isso) pra serem entendidas. E não é porque você ainda não aprendeu o caminho melódico daquela música, mas é simplesmente porque você não está compreendendo exatamente a maneira pela qual aquela música (estilo ou artista) está fluindo. E isso tem a ver com o "épocas e humores", que eu falei ali em cima. Mesmo depois de compreender isso, e se acostumar com aquela estética musical, nem sempre a música soará bem, e não falo de enjoar dela, ou algo parecido, mas simplesmente de não estar "in the mood".


Alguns estilos, e alguns artistas, entretanto, pelo menos pra mim, costumam precisar de um "algo a mais", até pra que eu aprenda o "mood" praquela(s) música(s). Aconteceu com o Led Zeppelin. Eu baixei trocentas músicas há uns anos, mas só gostava de algumas. Hoje em dia, é difícil dizer de qual eu não gosto (The Crunge é o exemplo mais evidente). Aconteceu com Jimi Hendrix. Aconteceu com o blues.

E aconteceu com Robert Johnson. Afinal, quando eu peguei uma ou outra gravação (Hell Hound On My Trail e Me And The Devil Blues, excelentes títulos pra cativar um molequinho que havia começado a ouvir rock poucos meses antes), eu francamente não gostei. Eu até achava interessante, as letras, coisa ou outra na música, mas não conseguia cantar a plenos pulmões, acompanhando e me empolgando com aquilo. Era uma gravação tosca, um violão estranho, uma voz que muitas vezes parecia irritar... que que aquele negão tava cantando? Com o tempo, com o costume com o blues, eu fui aprendendo a apreciar melhor a arte de Robert Johnson. Entretanto, esse "entendimento" só chegou ao completo por meio de um intermediário, há poucas semanas. Isso já me tinha acontecido com o próprio blues (o intermediário tinha sido o Led Zeppelin), e a música brasileira, MPB e samba, em especial (que eu gostava, mas não achava grandes coisas - o intermediário foi o Los Hermanos). Dessa vez, o intermediário foi o grande Eric Clapton.





Em 2004, Eric Clapton gravou um álbum chamado "Me And Mr Johnson", no qual ele apresenta as suas versões para as músicas do imortal bluesman. O que eu só vim descobrir há pouco tempo, é que a veneração de Clapton por Robert Johnson não parou por aí: no mesmo ano, saíram CD e DVD novos, que nada mais são do que ele tocando as músicas e falando sobre o Bob. Eu vi o vídeo deste DVD (bem mais curto que o DVD completo, evidentemente) por acidente, numa quarta-feira de manhã, antes de ir pra faculdade, e, ali, Robert Johnson começou a fazer sentido. Peguei uma fita velha e gravei a reprise, que passou uma da madrugada. Infelizmente, a fita velha e o vídeo, também velho, de qualidade duvidosa, já tendo passado pelo estaleiro, decretaram que eu gravasse apenas 2/3 do programa de uma hora. No vídeo, havia três momentos. No primeiro, Clapton e banda tocando versões "modernas" das músicas do Bob Johnson, com destaque pra "They're Red Hot" e "Sweet Home Chicago". Depois, ele e um guitarrista de apoio vão tocar, apenas com voz e dois violões, no hotel onde o Bob fez algumas de suas pouquíssimas sessões de gravação, em Dallas, Texas. Destaque pra Hell Hound On My Trail, Terraplane Blues, From Four Till Late (que, aliás, eu só conheci vendo o programa). A terceira parte, que mostra Clapton sozinho num quarto com um violão e uma foto do Bob numa mesinha do lado, meu vídeo fez o favor de não gravar. Das que eu me lembro de ele ter tocado, destaque pra Love In Vain. Tudo entremeado por alguns detalhes da vida do Robert Johnson, e algumas passagens do Clapton falando sobre ele e sua adoração, que teve origem quando Eric tinha 15 anos.


Depois de ver esse vídeo, passei a ouvir Robert Johnson de maneira diferente. E finalmente entendi porque ele foi o maior bluesman de todos os tempos, numa espécie de consenso que há entre quem gosta de blues. Mais pra frente vou tentar fazer um post sobre ele, o mais detalhado possível.

"Me And Mr Johnson" está disponível nas lojas brasileiras, e o preço é o normal de um CD estrangeiro lançado há pouco tempo. "Sessions For Robert Johnson" vem com CD e DVD incluídos, e o preço é um bocado salgado, mas acho que vale o investimento. É um puta presente de natal. Quem quiser me dar os dois, eu juro que não reclamo. Abaixo, os tracklists e capas:


Me And Mr Johnson

1. When You Got a Good Friend
2. Little Queen of Spades
3. They´re Red Hot
4. Me And the Devil Blues
5. Traveling Riverside Blues
6. Last Fair Deal Gone Down
7. Stop Breakin´ Down Blues
8. Milkcow´s Calf Blues
9. Kind Hearted Woman Blues
10. Come On In My Kitchen
11. If I Had Possession Over Judgement Day
12. Love In Vain
13. 32-20 Blues
14. Hell Hound On My Tail


Sessions For Robert Johnson (CD)

1.Sweet Home Chicago
2.Milkcow's Calf Blues
3.Terraplane Blues
4.If I Had a Possession Over Judgement Day
5.Stop Breakin' Down Blues
6.Little Queen of Spades
7.Traveling Riverside Blues
8.Me and the Devil Blues
9.From Four Until Late
10.Kind Hearted Woman Blues
11.Ramblin' on My Mind




Sessions For Robert Johnson (DVD)

1.Kindhearted Woman Blues
2.Kind Hearted Woman Blues
3.They're Red Hot
4.Hell Hound on My Trail
5.Sweet Home Chicago
6.When You Got a Good Friend
7.Milkcow's Calf Blues
8.If I Had Posession Over Judgement Day
9.Terraplane Blues
10.Hell Hound on My Trail
11.Me and the Devil Blues
12.From Four Until Late
13.Love in Vain
14.Ramblin' on My Mind
15.Stones in My Passway
16.Love in Vain
17.Little Queen of Spades
18.Traveling Riverside Blues



Sugestão de blues para o natal: BB King - Merry Christmas Baby