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segunda-feira, 17 de abril de 2006

Mais uma vez o campeão, mais uma vez o samba...


"O Chefe da Folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar
Ai, ai, ai
É deixar mágoas pra trás, ó rapaz
Ai, ai, ai
Fica triste se és capaz e verás"



A Geografia do samba:

No século XIX, com o desenvolvimento da cultura do café no Sudeste, se manteria o fluxo escravagista para o Rio de Janeiro, e muitos negros viriam do Nordeste para as plantações do vale do Paraíba como para trabalhar no interior paulista. A escravatura urbana da nova capital, tão bem documentada pelo trabalho de Debret, começa a perder importância com a transferência maciça de negros vendidos para as plantações. A população negra do Rio de Janeiro só voltaria a crescer já na segunda metade do século XIX com a decadência do café no vale do Paraíba e com as chegadas sistemáticas dos baianos que vêm tentar a vida no Rio de Janeiro.

A Abolição engrossa o fluxo de baianos para o Rio de Janeiro, liberando os que se mantinham em Salvador em virtude de laços com escravos, fundando-se praticamente uma pequena diáspora baiana na capital do país, gente que terminaria por se identificar com a nova cidade onde nascem seus descendentes, e que, naqueles tempos de transição, desempenharia notável papel na reorganização do Rio de Janeiro popular, subalterno, em volta do cais e nas velhas casas do Centro.

A província do Rio de Janeiro, de 119.141 escravos em 1844, no início da década de 1870 passa a contar com mais de trezentos mil, dos quais grande parte havia chegado da África através dos portos do Nordeste, muitos vindos de Salvador...

Ou seja, no Rio de Janeiro, então capital federal, a abolição da escravatura e o posterior declínio do café acabaram liberando grande leva de trabalhadores braçais em direção à Corte; Contudo, a volta dos soldados em campanha na Guerra de Canudos também elevou o número de trabalhadores na capital federal. Muitos desses soldados trouxeram consigo as mulheres baianas, com as quais haviam se casado.

Essa comunidade baiana - formada por negros e mestiços em sua maioria - fixou residência em bairros próximos à zona portuária (Saúde, Cidade Nova, Morro da Providência), onde havia justamente a demanda do trabalho braçal e por conseqüência, a possibilidade de emprego. Não demorou muito para que no quintal dessas casas as festas, as danças e as tradições musicais fossem retomadas, incentivadas sobretudo pelas mulheres.



O Gênero da Música:

Apesar de alguns dos mais conhecidos compositores de samba serem homens, de acordo com José Ramos Tinhorão (autor de "História da Música Popular Brasileira - Samba."), "mais importante do que os homens, foram essas mulheres" - quituteiras em sua maioria e versadas no ritual do candomblé - as grandes responsáveis pela manutenção dos festejos africanos cultivados naquela redondeza, onde predominavam lundus, chulas, improvisos e estribilhos. Entre essas doceiras estavam tia Amélia (mãe de Donga), tia Prisciliana (mãe de João de Baiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Baiana), tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmen do Xibuca) e a mais famosa de todas, tia Ciata, pois justamente de sua casa, à rua Visconde de Itaúna 117 (Cidade Nova), é que "viria a ganhar forma o samba destinado a tornar-se, quase simultaneamente um gênero de música popular do morro e da cidade".

Tia Ciata, a mais famosa, num sobrado da rua Visconde de Itaúna, nº 117, em frente ao Colégio Pedro II, possuía uma casa comercial para vender quitutes baianos e cultivar o jogo. Cedo tia Ciata reuniu uma freguesia de malandros, que faziam música, inspirados naquele ritmo que ela, e outras bahianas como ela, havia trazido à cidade grande. Entre esses malandros, estaria a nata de compositores de samba do início do século, a exemplo de Donga, Sinhô (o Rei do Samba), Pixinguinha, Hilário Jovino Ferreira, João da Baiana, China (irmão de Pixinguinha), Heitor dos Prazeres e tantos outros. Foi através dessas reuniões, onde a música e o jogo se misturavam, que foi criado o primeiro samba de autor identificado: O "Pelo Telefone".


Cozinheira, mãe de santo, animadora cultural e dona da casa onde se reuniam sambistas. Há controvérsias sobre a data de nascimento de Tia Ciata. Alguns pesquisadores afirmam que a data correta é : 23/4/1854. Tia Ciata (seu nome é encontrado também grafado como Siata, Aciata, Assiata ou Asseata) chegou ao Rio de Janeiro em 1876, aos 22 anos, indo residir inicialmente na Rua General Câmara. Em seguida, residiu na Rua da Alfândega e depois na Rua Visconde de Itaúna (próxima à Praça Onze). Tia Ciata tirava seu sustento da cozinha típica baiana. Ela vendia quitutes em seu tabuleiro entre as ruas Uruguaiana e Sete de Setembro, e também no Largo da Carioca.

Em sua sala, o baile onde se tocavam os sambas de partido entre os mais velhos, e mesmo música instrumental quando apareciam os músicos profissionais, muitos da primeira geração dos filhos dos baianos, que freqüentavam a casa. No terreiro, o samba raiado e às vezes as rodas de batuque entre os mais moços. As grandes figuras do mundo musical carioca, Pixinguinha, Donga (filho de mãe baiana), João da Baiana (idem), Heitor dos Prazeres (também filho de mãe baiana), surgem ainda crianças naquelas rodas onde aprendem as tradições musicais baianas a que depois dariam uma forma nova, carioca.

A casa da Tia Ciata se torna a capital dessa Pequena África no Rio de Janeiro. Assim, esse grupo baiano se constituía numa elite nessa comunidade popular que se desloca do Centro para suas imediações, forçada a se reestruturar a partir das grandes transformações nacionais e da reforma da cidade, referências de um grupo heterogêneo e caótico onde se preservam e se misturam essas maiorias e minorias étnicas nacionais e estrangeiras.

Assim se pronuncia José Ramos Tinhorão: "Ao contrário do que se imagina, o samba nasceu no asfalto; foi galgando os morros à medida em que as classes pobres do Rio de Janeiro foram empurradas do Centro em direção às favelas, vítimas do processo de reurbanização provocado pela invasão da classe média em seus antigos redutos.


Para Tia Ciata e sua geração de baianas-festeiras tradicionais, a festa da Penha era o momento de encontro de sua comunidade de origem com a cidade, desvendando para os ‘outros’ essa cultura que subalternamente se preservava e que era a cada momento reinventada pelo negro do Rio de Janeiro. Mas sua morte, em 1924, encerra uma época.


"Quem for bom de gosto
Mostre-se disposto
Não procure encosto
Tenha o riso posto
Faça alegre o rosto
Nada de desgosto
Ai, ai, ai
Dança o samba
Com calor, meu amor
Ai, ai, ai
Pois quem dança
Não tem dor nem calor"


Fontes:
Pequena História do Samba - Nancy Alves
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira
“Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro” (FUNARTE, 1983) de Roberto Moura

Um comentário:

Anônimo disse...

por isso que eu digo, racismo é besteira, viva o negro, o samba, o chopp, a mulata bonita !!!

é Brasil !!!!!

preto aidético diabético? que nada !!!
afro-descendente soropositivo insulino dependente

oooo beleza brasileiraaaaa