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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Layout em mudanças...

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Eis que o blog ressuscita, passa para o novo blogger, e muda um pouco o layout. Ainda estamos trabalhando nele, mas já mudei algumas coisinhas que acho que ficaram boas.
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Em tempo: declarei ontem mesmo que o blog não era meu, e que não postaria por vários meses, mas resolvi fazer essas mudanças. De qualquer forma, vou mesmo ficar alguns meses sem postar, pelo menos a princípio.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

'Cause, Nobody Knows You...



Muito embora os primeiros bluesmen fossem homens de um sul rural e amargo, coube a uma mulher, da cidade grande, entrar para a história com a primeira gravação de blues. Mamie Smith, que morava em Nova York, lançou um 78 rotaçoes com a múscia Crazy Blues.
Contudo, Mamie não se limitava a cantar apenas o blues, assim como muitos dos cantores da época; Eles apresentavam um repertório variado, intencionamente dançante, para agradar a todo o tipo de público, pois se tratava do seu ganha pão.
Sensível a essa contribuição feminina, insuficientemente reverenciada, este blog resolveu trazer à luz algumas informações significativas.

Como a histórias da Cantora Alberta Hunter, que se tornou em vezes indissociável da Cantora Bessie Smith (reverenciada por muitos como a Imperatriz do Blues), que obteve seu primeiro sucesso com a música "Downhearted Blues", chegando ao primeiro lugar das paradas com um milhão de cópias vendidas, uma quantidade impressionante para a época.
Contudo, mesmo "Downhearted Blues" sendo uma composição de Alberta, muitos, até hoje, atribuem-na à Bessie Smith.

Mais impressionante ainda foi o fato de após décadas de ostracismo, Alberta ter sido redescoberta trabalhando como enfermeira em um hospital em 1977, aos 81 anos de idade. Voltou, então, a gravar, excursionar e até cantou no Brasil alguns dias antes de morrer com 90 anos de idade.



Estamos falando de uma intérprete que iniciou sua carreira artística em Chicago antes mesmo de King Oliver, Louis Armstrong ou Sidney Bechet saírem de Nova Orleans.
Ela trabalhou e gravou com esses grandes nomes e muitos outros como Fletcher Henderson, Eubie Blake, Duke Ellington, Fats Waller e Clarence Williams, sendo adorada em Copenhagen e Amsterdam.

Alberta era de Memphis e conhecia o autoproclamado "pai do blues" W. C. Handy. Ela afirma, também, ter sido a primeira a apresentar a música "St. Louis Blues" (sucesso de Bessie Smith) às audiências de Chicago. Fez mais de cem gravações em diversas gravadoras e compôs “Downhearted Blues” em 1923, gravando-o um ano antes de Bessie Smith. Ela compôs inúmeras outras músicas, muito embora sua carreira seja permeada de músicas de blues, baladas e outras de ritmo mais rápido.

De acordo com a biografia feita sobre ela, tratava-se de uma pessoa muito privada, que, segundo o biógrafo Frank Taylor, procurava falar tanto de seus contemporâneos quanto de si mesma.

Alberta Hunter nasceu em abril de 1895, Memphis, Tennessee. Tratava-se de uma criança muito frágil e suscetível à doenças. Seu pai abandou a família enquanto ela era ainda muito jovem e sua mãe, trabalhando em dois empregos, tentava proporcionar o melhor lar possível em uma época de segregação institucionalizada.
Porém, Alberta nunca se apresentou amarga frente às lembranças de sua infância, pelo contrário, com as dificuldades financeiras e o racismo, instalou-se nela o desejo e a determinação pelo sucesso.

Embora não fosse rica, Alberta sempre vestia roupas boas e possuía uma boa casa para morar. Isto se tornou importante para ela durante o resto de sua vida; Viver de maneira cuidadosa à evitar excessos, ao contrário de muitos de seus companheiros do Show Business. E, apesar de não se passar por uma pessoa passional, demonstrava tremenda compaixão ao próximo.

Comumente, muitas fontes afirmam que Alberta tinha 10 ou 11 anos quando (outras, menos provável, que ela tinha 16), ao sair para comprar pão, encontrou sua professora do colégio (conhecida por seus alunos como 'Miss Florida') que, por possuir uma passagem de ônibus extra, aceitou levá-la para Chicago. Alberta havia mentido dizendo que passaria em casa para pedir a permissão de sua mãe.
Com apenas as roupas do corpo, 15 centavos e sem qualquer idéia do que faria ao chegar lá, partiu para Chicago.

Ao chegar, segundo a história, ela foi intuitivamente vagando pela cidade até acabar no apartamento de Helen Winston, a filha de uma amiga de uma amiga de sua mãe (não foi erro de digitação. era realmente "amiga da amiga"). Helen conseguiu o primeiro emprego de Alberta, descascando batatas e ajudando com tarefas no apartamento por 6 dólares por semana.

Apesar de menor de idade, Alberta conseguiu um emprego de cantora no "Dago Frank's" um clube sórdido na parte sul de Chicago que era frequentado por jogadores, gangsters, prostitutas e cafetões. Ela só conhecia algumas músicas, mas imediatamente começou a expandir o seu repertório aprendendo uma nova música por dia. Ela não só desenvolveu a sua performance no club Drago Frank's como aprendeu a se vestir e a como lidar com cafetões, retirando generosas gorjetas deles.


Ela, então, conseguiu expandir seu "show" para uma série de clubes, evoluindo cada vez mais. Em 1919, ela já estava cantando no Dreamland com a banda de King Oliver. A partir daí até os 30 anos que se seguiram, sua carreira a levou para Nova York, Paris, Londres, Amsterdã, Copenhagen e partes da Ásia e África. Trabalhou com músicos renomados como Louis Armstrong, Sidney Bechet, and Fletcher Henderson. Quando, devido a 2ª Guerra Mundial, as viagens para Europa tornaram-se inviáveis, ela se alistou no USO para se apresentar em favor dos soldados na gurra.

Ao final dos anos 40, Alberta encontrava dificuldade em continuar a gravar e se apresentar, já estava com cinqüenta anos, os gostos haviam mudado e a televisão, assim como os filmes, esvaziaram parte da audiência. Ela ainda recebia algumas ofertas para viajar para a Europa, mas, simplesmente, não eram mais tão atraentes. Finalmente, com a morte de sua mãe em 1954, Alberta deixou o show business.


Servir a outros era um tema recorrente em sua vida e era assim que ela encarava as suas performances. Contudo, alguns anos antes, Alberta fazia trabalho voluntário no Hospital de Harlem e agora decidira transformar o que antes era voluntário em uma carreira, apesar de estar com 60 anos de idade(!). Conseguiu, usando sua lábia, cursar as aulas de enfermagem e, ao se formar, começou a trabalhar no Goldwater Memorial Hospital. Ela trabalhou os 20 anos seguintes como um enfermeira e pouquíssimas pessoas sabiam de sua antiga carreira como cantora de cabaré e ela nunca cantava para os seus pacientes.

Através de uma série de eventos improváveis, Barney Josephson, que era dono de um pequeno club no Greenwich Village, a localizou. O clube, "The Cookery", era o estilo de clube onde ela havia triunfado nos anos 20 e 30, intimista, cheio e barulhento. O dono do clube a convenceu de que ela seria bem recebida lá, embora ela acreditasse que ninguém se interessaria por uma velha cantando. Após alguns ensaios, estreiou fazendo par com o pianista Gerald Cook.

Assim como o Barney previu, ela foi um sucesso e no topo de seus 82 anos se tornou uma sensação da noite para o dia. O clube ficava lotado todas as noites, outros shows foram marcados, ela entrou nos circuitos dos 'talk shows', choveram artigos de jornais e revistas e a sua biografia foi escrita. Ela voltou a fazer turnês e discos (alguns dos quais estão disponíveis em CD) e foi durante esse período que muito do que se sabe sobre ela tomou a forma escrita.


A saúde da cantora só começou a declinar perto do fim; Mesmo após sofrer uma queda em 1981 e fraturar a perna, ela não diminuiu seu ritmo. Manteve seu calendário puxado de performances e gravações, até que, finalmente, em outubro de 1984, seis meses antes de seu 90° aniversário, Alberta Hunter morreu no seu apartamento em Manhattan, sentada em sua cadeira predileta.



FONTES:
Nursing the blues: The Remarkable Alberta hunter (1895-1984) - David H. Evans
Coleção "Para Saber Mais", Blues - Helton Ribeiro

Posts anteriores com alguma pertinência:
A influência feminina no samba
Sobre Yvonne Lara

indicação: O CD Amtrak Blues, eu comprei e valeu cada centavo.


PREVIEWS:
> Nobody Knows You When You're Down & Out


Integral:
> Downhearted Blues